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Encontrei um nódulo no baço, e agora?

Fonte: http://anatpat.unicamp.br

Por Alessandra Maria Dias Lacerda

Massas esplênicas em cães podem ser provenientes tanto de processos benignos (ex. hiperplasias nodulares) como de processos malignos (ex. hemangiossarcomas), podendo estar obscurecidas por proeminentes e amplos hematomas. O tamanho da formação e suas caraterísticas radiográficas, ultrassonográficas e macroscópicas não exibem valor preditivo em relação a sua possível malignidade (Eberle, et al., 2012), embora formações benignas tendam a serem maiores quando comparadas à hemangiossarcomas (Mallinckrodt, et al., 2011). Os sinais clínicos variam e podem incluir anorexia, letargia, colapso, palidez, abdômen abaulado e sensível, êmese e diarreia (Meuten, 2017). Quando a formação não exibe sangramento ativo e é constatada na palpação ou ultrassom, o proprietário e clínico terão tempo para considerar outras opções terapêuticas, já quando a ruptura ocorre, a decisão de realizar uma esplenectomia é muito mais simples. De qualquer maneira, a realização do histopatológico é imprescindível para a determinação do processo, pois é o padrão ouro para determinar a natureza dessas lesões.  Sua distinção é importante devido ao péssimo prognóstico em casos de hemangiossarcoma esplênico, com tempo médio de sobrevida de três meses após a esplenectomia (Wood, et al., 1998).

Tumor – Neoplasia ou não?

 

Assim que a massa esplênica é detectada, é importante determinar se o processo é benigno ou maligno. Estudos retrospectivos revelam que aproximadamente 50% de todas as tumorações encaminhadas correspondem a neoplasias malignas (Mouser; Eberle, et al., 2012).

A hiperplasia nodular é uma proliferação benigna focal de células esplênicas residentes, podendo ser subclassificada com base no predomínio celular – ex. esplênica, linfoide, complexa e hematopoiética. É uma das causas mais comuns de tumores esplênicos no cão, sendo menos prevalentes em gatos e raras em outras espécies; não há predileção de sexo e a idade média é de aproximadamente 11 anos.  A hiperplasia nodular do subtipo linfoide é proliferação mais comum e está frequentemente associada à formação de hematomas esplênicos, podendo assim obscurecer o diagnóstico. Os principais diagnósticos diferenciais são linfomas, sarcomas histiocíticos ou sarcomas estromais (Meuten, 2017).

Hiperplasia nodular Fonte: Mcgavin, M. Donald e Zachary, James F. 2007. Pathologic Basis of Veterinary Disease. s.l. : Mosby Elsevier, 2007.

Os tumores vasculares de origem esplênica, especialmente os hemangiossarcomas, são altamente prevalentes nos cães e raros em outras espécies animais. Os cães acometidos geralmente têm entre 6 a 17 anos de idade.  Podem se apresentar como formações múltiplas ou únicas que, ao corte, exibem superfície formada por espaços vasculares e abundante hemorragia; histologicamente são compostas por células endoteliais formando espaços vasculares ou sólidos, com grau de atipia celular variável. Os hemangiossarcomas esplênicos possuem um alto índice metastático e, quase invariavelmente, um prognóstico grave e com tempos de sobrevida baixos (Meuten, 2017).

Hemangiossarcoma esplênico (aumento de 400x)
Hemangiossarcoma esplênico (aumento de 40x)

 

 

 

 

 

 

Os hematomas esplênicos ocorrem principalmente em cães (menos comumente em gatos) devido à circulação aberta de sangue que ocorre nas zonas marginais da polpa branca – quando ocorre distorção dessa zona, geralmente por linfócitos hiperplásicos, há acúmulo e estase do sangue circulante, por sua vez incapaz de retornar aos capilares venosos, resultando no acúmulo e distorção progressiva do parênquima. Também podem ocorrer secundariamente a neoplasias de origem vascular, cujo sangramento direto na polpa vermelha confinada pela cápsula esplênica produz uma massa geralmente solitária de tamanho variável (Mcgavin, et al., 2007). O hemoperitônio não traumático ocorre mais frequentemente associado à hemangiossarcomas esplênicos, entretanto também pode ocasionalmente ocorrer em casos de hematomas associados a processos benignos, sendo assim seu valor preditivo é ambíguo (Cole, 2012).

Hematoma esplênico Fonte: Mcgavin, M. Donald e Zachary, James F. 2007. Pathologic Basis of Veterinary Disease. s.l. : Mosby Elsevier, 2007.

Como enviar corretamente o baço para exame histopatológico

 

Como mencionado acima, as tumorações esplênicas podem ser neoplásicas ou não, e frequentemente encontram-se obscurecidas pelo hematoma associado. A fim de minimizar a possibilidade de erro diagnóstico recomenda-se o envio do baço inteiro fixado em solução de formalina 10%, mesmo quando o baço apresenta aumento de volume ou formação de grandes dimensões. A representação histológica deverá idealmente ser realizada pelo patologista/macroscopista experiente, a fim de manter a referência anatômica da formação, sendo também realizadas múltiplas segmentações e diferentes representações da formação e sua transição com o parênquima esplênico – somente então a ausência ou presença do possível processo neoplásico poderá ser fidedignamente confirmada.  Quando a peça é enviada já segmentada ao laboratório há grande risco de ocorrer um falso negativo, ou seja, a formação principal ser neoplásica, entretanto ser apenas enviado maior parte dela correspondente ao hematoma associado.

Na impossibilidade do envio da peça inteira ou com quantidade de formalina adequada, recomenda-se entrar em contato com o laboratório que irá receber a amostra para determinar procedimentos adicionais.

Lembre-se que a equipe de patologistas do CVAP está sempre disposta a esclarecer quaisquer dúvidas sobre o envio de diversas amostras!

Bibliografia

Cole, Patricia Ann. 2012. Association of canine splenic hemangiosarcomas and hematomas with nodular lymphoid hyperplasia or siderotic nodules. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation. 2012, Vol. 24, 4, pp. 759–762.

Eberle, N., et al. 2012. Splenic masses in dogs: Part 1: Epidemiologic, clinical characteristics as well as histopathologic diagnosis. Tierärztliche Praxis Kleintiere. 2012, pp. 250–260.

Mallinckrodt, Mary Jo e Gottfried, Sharon D. . 2011. Mass-to-splenic volume ratio and splenic weight. Journal of the American Veterinary Medical Association. 2011, Vol. 239, 10, pp. 13250- 1327.

Mcgavin, M. Donald e Zachary, James F. 2007. Pathologic Basis of Veterinary Disease. s.l. : Mosby Elsevier, 2007.

Meuten, Donald J. 2017. Tumors in Domestic Animals. s.l. : Wiley Blackwell, 2017.

Mouser, Pamela. So, your dog has a splenic mass… [Online] https://www.mspca.org/angell…/so-your-dog-has-a-splenic-mass/.

Wood, Carrie A., et al. 1998. Prognosis for Dogs with Stage I or II. J Am Anim Hosp Assoc. 1998, Vol. 34, pp. 417–21.

 

 

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