Por M.V. Caio Fernando Monteiro Gimenez
A esporotricose é uma zoonose emergente causada pelo fungo do gênero Sporothrix, principalmente espécie schenckii, entretanto, no Brasil os casos de S. brasiliensis vêm aumentando consideravelmente. A esporotricose é endêmica no Brasil, uma doença negligenciada, de notificação não obrigatória em animais. O número de casos registrados da doença vem aumentando exponencialmente desde o final do século XX em humanos e animais, principalmente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, inclusive em grandes centros urbanos como Rio de Janeiro e São Paulo e regiões metropolitanas, como Guarulhos e Diadema. Os felinos são a espécie com maior número de casos diagnosticados e apresentam o maior potencial de transmissibilidade, devido a abundante quantidade de leveduras encontradas nas lesões, sendo um importante marcador biológico da doença.
Forma de transmissão
A infecção ocorre, principalmente, por meio de trauma cutâneo, como arranhadura ou mordedura de animais doentes, sendo o gato o mais comum transmissor (figura 1), e acidentes com espinhos de plantas ou matéria vegetal em decomposição (figura 2). Além disso, já foi isolado em cavidades nasal e oral, unhas e fezes de gatos infectados.
Figura 1 – Transmissão do Sporothrix spp. por meio de mordedura e arranhadura. Fonte: Centers of Disease Control and Prevention <disponível em: https://www.cdc.gov/fungal/port/sporotrichosis/brasiliensis.html>.
Figura 2 – A transmissão da espotricose pode ocorrer de um animal infectado para outros animais, bem como para o homem e, também, decorrente de acidentes com matéria vegetal contaminada Fonte: Centers of Disease Control and Prevention <disponível em: https://www.cdc.gov/fungal/port/sporotrichosis/brasiliensis.html>.
Apresentação clínica
Na forma cutânea as lesões clínicas são papulonodulares, que geralmente ulceram e drenam conteúdo serossanguinolento e ocorrem principalmente em região cefálica e em membros torácicos (figura 3).
Figura 3 – Gato com lesões ulcerativas e crostosas em região de face e pavilhões auriculares. Imagem gentilmente cedida pela Médica Veterinária Bruna Carboni.
Coleta do material
Antes da coleta do material é importante ressaltar o uso de luvas durante a manipulação do animal, bem como proteção dos braços, mãos e punhos, que devem ser higienizados com solução antissépticas após a coleta. Pessoas imunocomprometidas devem evitar manipular animais suspeitos, devido ao elevado risco. O material pode ser coletado de diversas formas, a depender da apresentação clínica da lesão. Por exemplo, em lesão ulceradas pode ser realizado o imprint ou decalque ou até mesmo por swab e posterior esfregaço em lâmina de vidro, já lesões nodulares podem ser coletadas pelo método de citologia aspirativa por agulha fina (CAAF).
Diagnóstico citológico
Microscopicamente, nos esfregaços citológicos corados por panótico rápido, observam-se macrófagos preenchidos por numerosas leveduras pleomórficas intracitoplasmáticas, ovaladas ou alongadas, caracterizadas por halo claro e delgado e centro basofílico, medindo entre 2,0 a 10μm, associados à abundantes neutrófilos, portanto, um processo piogranulomatoso associado a estruturas fúngicas morfologicamente compatíveis com Sporothrix spp. (figura 4). O exame citológico é considerado um método confiável de triagem, é pouco invasivo, de baixo custo, de rápido resultado em comparação aos demais métodos diagnósticos e apresenta boa sensibilidade (78-87%) no diagnóstico presuntivo da esporotricose em gatos. Mesmo com o resultado citológico, recomenda-se a realização de cultivo micológico, considerado padrão-ouro, para confirmação do diagnóstico.
Figura 4 – Fotomicrografia de esfregaço de citológico corado por panótico rápido, demonstrando macrófagos preenchidos por abundantes leveduras intracitoplasmáticas, junto a infiltrado inflamatório neutrofílico necrótico – 100x.