Por Caio Fernando Monteiro Gimenez com colaboração de Juliana Anaya Sinhorini.
O carcinoma apócrino é uma neoplasia maligna que acomete às glândulas apócrinas, assim como as modificadas como a ceruminosa e do saco anal.
Essa neoplasia é relativamente comum em cães, menos comum em gatos, e raramente descrito em outras espécies. Até o presente momento raros casos de carcinoma apócrino em primatas não-humanos foram relatados.
A apresentação clínica do carcinoma apócrino é variável. São nódulos dérmicos ou subcutâneos, que podem medir menos de 1 cm de diâmetro à muitos centímetros. Ao corte esses nódulos comumente exibem degeneração cística central e podem haver áreas de necrose intratumoral. Infiltração dos vasos linfáticos e invasão dos linfonodos regionais por células neoplásicas podem resultar em edema local severo, devido ao bloqueio do vasos linfáticos.
Histologicamente o carcinoma apócrino pode ser classificado como sólido, tubular ou cístico e suas variantes. As células neoplásicas são arranjadas em lóbulos, sustentados por trabéculas fibrosas e exibem citoplasma amplo e eosinofílico, núcleo redondo, ovalado, normocromático a hipercromático com nucléolo proeminente. Mitoses são frequentes, entretanto, variáveis, geralmente entre 1 a 4 mitoses por campo de maior aumento (400x). As células neoplásicas podem infiltrar a derme profunda e o tecido subcutâneo.
O presente relato tem como objetivo descrever, sucintamente, o caso de um macaco-prego (Sapajus flavius), fêmea, de 15 anos, encaminhada para a realização de necropsia, após óbito no transcirúrgico, para remoção de pavilhão auricular esquerdo com conduto auditivo, exibindo formação em região de conduto auditivo, medindo aproximadamente 3,5 cm no seu maior eixo, de superfície lobulada e coloração amarelada.
A análise microscópica do fragmento cutâneo de pavilhão auricular esquerdo revela formação neoplásica focalmente extensa e moderadamente delimitada na derme, caracterizada pela proliferação de células epiteliais basaloides arranjadas em ninhos semissólidos, ocasionalmente contendo material necrótico intraluminal e circundados por tecido fibroso. As células neoplásicas exibem citoplasma pouco delimitado e basofílico, núcleo redondo, ovalado e basofílico, cromatina rendilhada e múltiplos nucléolos evidentes por célula. Nota-se anisocariose marcante, pleomorfismo discreto e alto índice mitótico, caracterizado por 27 mitoses em 10 campos de maior aumento (400x) (Figura 1).
Figura 1 – Fotomicrografia do carcinoma apócrino ductular sólido-cístico.
O animal em questão veio a óbito por insuficiência respiratória devido a focos de metástases pulmonares de carcinoma apócrino em ambos os lobos pulmonares caudais (Figura 2 e 3).
Figura 2 – Metástase de carcinoma apócrino ductular sólido-cístico em lobo pulmonar caudal direito.
Figura 3 – Fotomicrografia de metástase de carcinoma apócrino ductular sólido-cístico no parênquima pulmonar.
Outras alterações relevantes encontradas, não relacionadas com o Carcinoma apócrino, foram colelitíase, degeneração micro e macrovacuolar hepática moderada difusa, gastrite linfoplasmocítica discreta, enterocolite linfoplasmocítica discreta a moderada, nefrite intersticial linfoplasmocítica moderada multifocal, cistos ovarianos e acrocordón perivulvar.
Referências
GOLDSCHMIDT, M, H..; GOLDSCHMIDT, K. H. Epithelial and Melanocytic Tumors of the Skin. In: MEUTEN, Donald. Tumors in Domestic Animals. 5. ed. Iowa: Wiley Blackwell, 2017. p. 88-141.
GROSS, T. L. et al. Sweat gland tumors. In: GROSS, T. L. et al. Skin Diseases of the Dog and Cat: Clinical and Histopathologic Diagnosis. 2. ed. Iowa: Blackwell, 2005. p. 665-694.